sábado, 23 de agosto de 2008

Vida é fazer todo sonho brilhar (João Bosco)

"Devo ser de fato tão antiquado, que venho sendo definido em algumas instâncias como 'ilustrado', devidamente entre aspas, e como alguém preso a uma visão de tipo teleológico da história e do pensamento.
Devo esclarecer que, ao contrário do que se poderia pensar, considero esta restrição um elogio.
Ela quer dizer que me mantenho fiel à tradição do humanismo ocidental definida a partir do século XVIII, segundo a qual o homem é um ser capaz de aperfeiçoamento, e que a sociedade pode e deve definir metas para melhorar as condições sociais e econômicas, tendo como horizonte a conquista do máximo possível de igualdade social e econômica e de harmonia nas relações.
O tempo presente parece duvidar e mesmo negar essa possibilidade, e há em geral pouca fé nas utopias. Mas o que importa não é que os alvos ideais sejam ou não atingíveis concretamente na sua sonhada integridade.
O essencial é que nos disponhamos a agir como se pudéssemos alcançá-los, porque isso pode impedir ou ao menos atenuar o afloramento do que há de pior em nós e em nossa sociedade. E é o que favorece a introdução, mesmo parcial, mesmo insatisfatória, de medidas humanizadoras em meio a recuos e malogros.
Do contrário, poderíamos cair nas concepções negativistas, segundo as quais a existência é uma agitação aleatória em meio a trevas sem alvorada."
Antônio Cândido (Prêmio Juca Pato de Intelectual do ano de 2007)

domingo, 17 de agosto de 2008

Preciso de pelo menos mais zil anos...

"Para onde vai tudo o que a gente pensa e reprime, tudo o que a gente lê e compreende, tudo o que a gente vê e não toca? Para onde vão as idéias que a gente consome e os sentimentos que nos envergonham? Vida interior. Nem mil anos bastariam para eu assimilar tudo o que sinto e acomodar toda essa trupe em mim." (Divã - Martha Medeiros)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Um poeta sentiu compaixão...

Ela estava triste. E eu não conseguia entender porque. Tentava tirá-la daquele estado. Dava conselhos. Se era para sofrer daquele jeito, melhor partir para outra. E foi então que ela me ensinou uma lição que carrego até hoje: para quem ama, sempre será diferente. Pouco tempo depois, Renato diria a mesma coisa, com outras palavras: "quem irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração?". Por isso dei a ela, de presente, este poema.

Balada de despedida dum amor imortal


Eu só queria ter o infinito
Que cabe num beijo teu.
Que faz do perverso, bendito;
De um pedaço de chão faz o céu.

Pr’a fazer do luar o meu canto,
uma estrela de meu coração.
P’ra que saibas que um dia amei tanto,
que um poeta sentiu compaixão.

É que amor também fere o peito
e o toque da dor vira chaga.
E o sonho - um dia perfeito -
se entrega, se curva e se apaga.

Mas pr’a nós há de ser diferente,
como sempre o é pr’a quem ama.
Sei: seremos loucura cadente,
um só ser, uma vida, uma chama.

E se assim não fosse, meu bravo Perseu,
de que me valeria esta verdade nua?
Pois já te fiz, ternamente, meu
como serei, eternamente, tua.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Estrela...

Sempre gostei de Gilberto Gil.
Mas nunca acompanhei sua obra com atenção que dedico a outros artistas, como o Chico Buarque, por exemplo.
Nos últimos anos resolvi corrigir essa injustiça.
E é incrível como há tanta coisa bela que a gente deixa de perceber, mas está bem ali, diante dos olhos (ou do ouvido, ou do coração...).
Percebi que o Gil é indiscutivelmente um artista grandioso. E sua obra é recheada das mais variadas temáticas e ritmos, para todos os gostos.
Ano passado me deparei com esta música, quando estava na academia, ouvindo o MP3 player:

"Estrela

Há de surgir
Uma estrela no céu
Cada vez que ocê sorrir
Há de apagar
Uma estrela no céu
Cada vez que ocê chorar
O contrário também
Bem que pode acontecer
De uma estrela brilhar
Quando a lágrima cair
Ou então
De uma estrela cadente se jogar
Só pra ver
A flor do seu sorriso se abrir
Hum!
Deus fará
Absurdos
Contanto que a vida
Seja assim
Sim
Um altar
Onde a gente celebre
Tudo o que Ele consentir"

É daquelas músicas que reforça minha convicção de que a vida vale a pena...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

"Para que não mais exista amores servis..."

Uma das belas surpesas musicais que tive nos últimos meses foi a obra de Renato Braz.
Da emocionante interpretação de "Dulcinéia" ao sublime arranjo de "A Internacional".
Para os amantes da boa música, um tesouro, do qual retiro esta pérola, musicada por Renato, e escrita por Mayakovsky (numa versão de Caetano Veloso e Ney Costa Santos)

"O Amor

Talvez, quem sabe, um dia
Por uma alameda do zoológico
Ela também chegará
Ela que também amava os animais
Entrará sorridente assim como está
Na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa
eles a ressuscitarão
O século 30 vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias
Agora vamos alcançar
Tudo que não podemos amar na vida
Com o estrelar das noites inumeráveis
Ressuscita-me
Ainda que mais não seja
Porque sou poeta e ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver o que me cabe
Minha vida
Para que não mais exista amores servis
Ressuscita-me
Para que ninguém mais tenha
De sacrificar-se por uma casa ou um buraco
Ressuscita-me
Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme
E o pai
Seja, pelo menos, o universo
E a mãe
Seja, no mínimo, a terra
A terra, a terra"

OS PANAMENTALISTAS

Corria o ano de 1992.
Andréas Leão XIII, no centro de uma Teresina ainda romântica.
Éramos quatro: eu, Sebastião Renildo, José Ribeiro e Gilson Alves.
O que queríamos? Nada demais: uma desculpa para escrever.
Sebastião vez por outra era clássico, rebuscado.
Ribeiro quase sempe ultra-moderno, impactante.
Gilson, um pouco espiritualista.
Eu, entre a poesia e a prosa.
Mas no fundo, rejeitávamos os limites de estilo e de temática.
Nossa pauta era o mundo.
O melhor de tudo é que éramos um grupo menor,
de uma turma que marcaria nossas vidas, até hoje.
Éramos os panamentalistas...

"Proposta

Escrever além de tudo
E de tudo escrever além.
Eis a arte, a poesia:
retirar do mal, o bem

Belo, feio. Vida, morte.
É o contraste da vida.
Do fraco se faz o forte;
No nada o tudo habita.

É o Pan, o Absoluto.
Reflexo da Eternidade,
Verdade do Universo.

Já é tempo de ler o Tudo,
unir a Humanidade,
mostrar a força do Verbo."